Foca no manual
- Ramon Cotta
- 31 de out. de 2016
- 3 min de leitura

Hoje, ao entrar no busão eu sentei ao lado de um jovenzinho que lia o livro "Manual dos Focas". Pra quem não sabe, a expressão foca é usada para se referir a todo o jornalista recém-formado em início de carreira e ainda inexperiente. Essa publicação é tipo uma regra de leitura no primeiro período do curso de jornalismo.
Então, eu, formado em jornalismo, sentei ali ao lado de um rapaz, que aparentemente devia ter no máximo uns 20 anos, que estava concentrado em um livro que li há quase 6 anos quando entrei na faculdade. E na hora, claro, já me deu uma vontade louca de puxar um papo, conversar sobre o manual, alertá-lo sobre o mercado e saber o que aquela mente inocente espera do seu futuro nessa profissão.
Até que respirei, pensei e achei melhor ficar na minha escutando o novo álbum da Lady Gaga, que por sinal, tá ótimo. Naquele momento já imaginei as perguntas que aquele rapaz poderia fazer sobre o mercado de trabalho e como é ser formado. Eu imaginei que iria escutar todo aquele discurso romantizado da profissão e da vida que nós temos quando somos calouros e então eu optei pelo silêncio. Talvez não fosse o meu melhor dia para eu oferecer um conselho a alguém ou dar um banho de água fria em um jovem sonhador. Principalmente sobre a escolha da profissão que é algo tão particular e pessoal.
Nós jornalistas temos a consciência que o mercado é foda, é exigente, é cruel, é desvalorizado e o jornalismo brasileiro vive uma crise de ética e de valores. Nós sabemos disso e vamos admitir que a gente já sabia disso desde a época do vestibular, né? E mesmo assim, escolhemos a profissão por amor ou por uma escolha inconsequente da adolescência.
E nós, agora, formados também sabemos que não podemos deixar a profissão definir quem somos. Que a vida é um leque de surpresas, que você só viveria tudo o que viveu se tivesse feito uma escolha no passado. Mas uma escolha que foi guiada por uma admiração a uma profissão. Por uma escolha que te apresentou amigos maravilhosos e fez das aulas de faculdade mais leves porque eram assuntos que te encantavam. E uma escolha que provou para você que há vários recomeços.
Hoje, já adultos sabemos que o modo como levamos o percurso, essa caminhada pelo jornalismo, por exemplo, vai ser mais importante do que qualquer coisa que eu diria ali para o menino do ônibus. Sabemos que fazer escolhas e desistir são ações que nos fazem humanos e não precisamos ter medo disso.
Meu pai sempre fala comigo que a gente tem que fazer tudo por amor. Até hoje ao me perguntar sobre o meu emprego atual, ele repete a frase: " - você está feliz? O importante é amar o que você faz no trabalho. Gostar do que se faz te torna um ótimo profissional."
Que seja assim.
Que a gente se lembre de fazer aquilo que nós mais amamos e nunca, nunca mesmo, ter medo de desistir em busca de algo novo. Escolhas que envolvem amor são sempre certeiras, mesmo que a vida te mostre um novo caminho depois.
Que o garoto do ônibus seja muito feliz, no jornalismo ou não, mas que a felicidade dele sempre esteja acima de qualquer cargo que ele ocupe.

























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