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Maria

Maria é o nome ficcional dela. Não tão ficcional assim, pois o primeiro nome dela seria Maria, se não fosse na hora do registro da certidão de nascimento o pai esquecer desse detalhe.

Maria é real.

Ela veio do interior da Bahia e tem 40 anos. 39, na verdade, ela sempre me corrige. Ou seria 38?

Maria não completou o ensino fundamental e começou a trabalhar desde garotinha. Mudou para São Paulo e ralou bastante. Mas não quero falar do passado da Maria. Quero falar do presente.

Maria é mãe de uma esperta garotinha de 11 anos de idade. Quando sua filha foi mal nas notas do colégio e a professora chamou atenção, Maria chorou. Chorou não porque a filha não correspondeu o papel de aluna brilhante.

"Eu não tive a oportunidade de estudar e não sei as coisas para ajudar a minha filha a aprender as matérias", ela disse aos prantos.

Maria não tem estudo. Tem uma vontade imensa de evoluir. E a evolução que digo não é através de livros, teorias, números, ciência e palavras bonitas. É através da vivência, da realidade, da empatia, do outro.

Maria vive, agora, falando de uma tal Ivana. A Ivana, a transgênero da novela das 9. Saca?

Maria está impressionada e confusa com a história. Mulher que vira homem? Gênero, sexualidade, trans, homossexualidade, bissexualidade. É muita nomeação. É muita modernidade.

Mas Maria quer entender, quer se informar. Um dia, ela me contou que viu uma entrevista de uma mãe de um transgênero. Eu brinquei e disse que ela só quer saber desse assunto agora. Com a sua espontaneidade e inocência ela me respondeu:

"Claro, amigo. Quero ler e ficar bem informada. Caso minha filha seja uma trans, quero saber como lidar. E mais do que isso: quero explicar à minha filha para ela não ter preconceito e praticar a aceitação".

Maria não tem diploma. Maria não julga. Maria não vem com discurso pronto. Maria quer amar. Amar com informação, com empatia.

Um dia, ela me contou orgulhosa, que sua filha (repito: de 11 anos de idade) defendeu seus tios gays e exigiu o fim de piadinhas ofensivas.

Maria ao se informar, educa a filha. Ensina cidadania. Ensina além dos livros. Ensina o amor.

Ela quer respeito. Respeito para todos.

O diploma que Maria tem é valioso, vale ouro. Ela é humana e me ensina, diariamente.

Seu coração é a sua grande inteligência.

Muito obrigado, Maria.

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