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O direito ao luto

  • Ramon Cotta
  • 16 de nov. de 2017
  • 3 min de leitura

A morte da atriz Márcia Cabrita me deixou meio chocado. Como assim uma atriz que fez uma novela das 6 esse ano, bem-humorada, jovem e talentosa morre? Burro eu, né, em pensar que a morte só pertence aos idosos.

Márcia estava doente e eu não sabia. Em 2010, ela foi diagnosticada com câncer no ovário. Na época foda da doença, ela escrevia em blog relatando a sua luta. Dei um googlada, achei o site e passei alguns minutos lendo. Um dos textos, a Márcia fala dessa ideia estapafúrdia de que quem está com câncer tem que, pelo menos parecer herói. Ela diz que a cobrança de positividade acabou se tornando um problema. Segue um trecho:

''O mundo moderno é incrível. Tudo é maravilhoso, não existe sofrimento! As separações são sempre amigáveis e sem lágrimas. A Quimioterapia é moleza! Vem cá, só eu que não moro na Disney? Hoje percebo que precisei viver esse luto. Ele passou, apesar do medo fui confiante para o hospital. Mas outras angústias vieram. Sofri pelo que é “o de menos”, chorei pelos cabelos, pelas sobrancelhas, pelos cílios, pelas dores, enjoos, injeções e tudo mais. Eu me dei esse direito. Eu me dei o direito de ser humana. A Mulher Maravilha mora na televisão, eu moro na Gávea. A Mulher Maravilha dá aquele giro e sai linda e poderosa para salvar pessoas. Se eu fizesse a mesma coisa cairia estabacada com a careca no chão. Então, meu giro foi bem devagarzinho segurando na mão de minha mãe, irmã, amigos e familiares. Girei brincando com minha filha que fez questão de ir para escola de lenço na cabeça “igual a mamãe porque é muito legal”. Girei para salvar a mim mesma. Não acredito em uma seleção divina. Muitas pessoas bacanas e crianças morrem e isso não é justo. Acho um saco quando dizem “Fulano perdeu a batalha contra o câncer”, “Fulana tem tanta vontade e alegria de viver que foi salva” ou “ O amor por meus filhos me salvou”. Me parece tremendamente injusto. Quer dizer que quem morre não amava a vida?'', ela relatou.

Sempre achei meio uó esses conselhos prontos que a gente oferece as pessoas quando estão em situações tristes. Não chore, não desanime, não pare.

Eu acho o luto totalmente necessário.

Seja na morte, na dor, na doença, no amor.

É mó saco essa cobrança da gente ser 100% feliz o tempo todo, tá bem humorado 24 horas e precisar enfrentar todos os desafios de cabeça erguida.

Eu sei que uma desilusão amorosa não chega aos pés de um câncer ou de uma morte. Mas um dia desses, eu tava conversando com uma amiga que tinha terminado um relacionamento. Ela tava no chão, chorando horrores e me disse que sabia que não podia estar nessa situação. Na hora, bateu um silêncio e eu a encorajei pra tristeza.

Falei pra ela se jogar nesse luto, chorar tudo que tem que chorar, sofrer tudo que tem que sofrer. Dê a ela o tempo pra se recuperar. Afinal, somos humanos e não personagens de best-seller de superação.

Nós precisamos do luto.

A gente não vai ter a felicidade integral e nem enfrentar perfeitamente todos os perrengues que fazem parte da vida.

São nas tempestades que as plantas crescem e podemos aplicar isso na nossa vida.

Na dor ou no amor, a gente cresce. E é um puta crescimento.

Se jogue no luto sabendo, claro, que ele precisa de um fim e a nossa vida precisa seguir.

A fraqueza é humana. Se fortalecer é um ato de coragem e amor próprio.

Que lutemos, mas que também não esqueçamos que viver um luto é uma parte essencial para evoluirmos.


 
 
 

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Calma, eu me perdi aqui © 2016 por Ramon Cotta 

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