Dance com a sua dor
- Ramon Cotta
- 30 de nov. de 2018
- 2 min de leitura

Eu virei fã da Elza Soares não só foi por causa das suas músicas, nem por sua voz, ou seu jeito de cantar. Foi por causa das suas tragédias pessoais, dos seus fracassos e das suas perdas.
Foi assistindo uma entrevista dela, em 2015, que me encantei. No auge dos seus 80 e tantos anos, ela falava com uma lucidez incrível sobre como é difícil ser mulher negra e todas as fatalidade da sua história.
Que mulher foda.
E a vida dela foi acompanhada de dores, que ela canta, recanta, conta, reconta, relembra e revela.
Uma coisa que sempre me incomodou é a nossa maneira - como sociedade - de lidar com as tristezas.
Uma vez, contei algo pra uma amiga e ela me olhou com tanta piedade que me incomodou. Por mais que eu não estava contando algo pra lá de feliz, o jeito que ela tratou o assunto me deixou péssimo pq comecei a me questionar se era pra eu ficar pior com a situação.
Depois desse dia, eu comecei a me controlar a maneira que eu vejo a minha dor e, principalmente, como lidar com a dor do outro.
Não é deixar a empatia de lado e dar risada em velório. Não é isso. É começar a ver as dores como algo natural, como um caminho rápido, como uma fase e, mais do que isso, como necessárias e possíveis de solução.
Há séculos, era tradição de alguns povoados mexicanos terem um pintor especializado em retratar dores.
Quando ocorria alguma tragédia, as famílias contavam a história ao pintor, diziam qual santo queriam dedicar aquela imagem e toda tristeza virava um lindo quadro na parede.
Era uma forma de transformar a dor em arte e eternizar que aquele momento foi vivido, aprendido e superado.
A tristeza dói, mas também ensina. Acolhe. E quanto mais a gente aceita, ela deixa de virar um monstro e vira uma professora. Quanto mais você compreende, mais belezura vê.
Não há problema que sua vida, neste momento, tá uma merda. Vida perfeita só no Instagram (com muito filtro e falsidade, claro!).
A jornalista Bárbara Gância, que acabou de lançar um livro que conta sobre sua dependência ao álcool, deu uma entrevista que reforça que, no Brasil, ninguém quer falar dos problemas pessoais. E as celebridades são um exemplo disso.
O maior cantor popular do país, Roberto Carlos, não tem uma perna e nem toca no assunto que poderia ajudar bastante de gente.
Sentir raiva, tristeza e medo são sentimentos tão legítimos quanto à alegria. E isso me lembra o fofo filme da Disney, Divertida Mente. Já viram?
A felicidade só existe por causa da tristeza.
A gênia Marisa Monte, em uma das suas canções, manda o seguinte recado:
Faça a sua dor dançar.
Eu complementaria:
Dance com a sua dor e arrase!

























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