Só vale se postar
- Ramon Cotta
- 25 de fev. de 2019
- 2 min de leitura

Um dos momentos mais encantadores da minha vida não teve registro, não virou stories e nem postagem do Instagram.
Foi no Mato Grosso, em um aquário natural de águas cristalinas em que pude nadar em meio aos peixes. Uma experiência incrível e única.
Não virou post, nem foto acompanhada de uma legenda #gratidão, não porque eu não quis e fiz o desapegadão. É pq não era possível utilizar o celular, durante o nado, por motivos óbvios.
Um momento vivido, na sociedade atual, sem ser registrado parece que foi irreal. Não existiu.
Porque parece que para viver, tem que registrar. Temos que existir no off e reexistir no on com mais filtros, perfeição e felicidade.
Recentemente, encontrei com uma amiga, que eu não via há quase 1 ano e só acompanhava a vida dela atrás do Instagram. Conversa vai, conversa vem, eu relatei que eu tinha a impressão que ela estava vivendo a melhor fase dela, se sentindo bem e bela, por causa das suas redes sociais. Daí veio a surpresa quando ela disse:
- ao contrário, nunca me senti com tanta baixa autoestima. Talvez eu poste tanto pra eu me convencer daquilo que eu sou no Instagram.
E essa fala dela, tão natural e espontânea, me fez refletir e me sentir culpado. Eu julguei que estava tudo tão bem com minha amiga que não mandei mensagem perguntando como ela estava, porque a timeline dela era repleta de beleza e eu tinha a certeza absoluta que eu sabia tudo que ela vivia.
Aniversários com declarações públicas nas redes sociais viraram uma obrigação. Não adianta mandar uma mensagem linda pelo WhatsApp, nem ligar e muito menos mandar um presente. O que vale é uma postagem nas redes sociais.
Uma vez, uma amiga minha brigou comigo pq no aniversário dela não postei nada. E um outro amigo me questionou pq o texto que eu fiz pra outra amiga ficou maior do que o dele.
O que não vira post não é mais considerado sentimento verdadeiro.
Mas, sei lá, talvez tô problematizando demais.
Talvez eu tô sendo um baita hipócrita.
Talvez a gente tenha que existir nas redes sociais pq a vida real já é bastante dura.
Talvez no off a gente consiga ser o que a gente queria ser, mas não é.
Talvez infelicidade e fracassos não gerem likes e estamos todos aqui por curtidas e se sentir amado e desejado.
E talvez eu tivesse que me preocupar menos com a o bapho da Marina Ruy Barbosa com o José Loreto e parar de shippar Lady Gaga com Bradley Cooper (ou eles comigo!).
A única certeza que eu tenho é que preciso parar de achar que só pq minha amiga tá postando uma selfie maravilhosa, viajando pra lugares lindos, trocando declarações públicas de amor com o namorando e escutando Anitta no spotify que a vida dela tá ótima.
Porque a realidade (real/oficial como dizem) de cada um não é postada.
De defeitos já bastam a vida off. Um brinde a nossa mentira virtual!

























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