Eu te amo muito

Eu tenho uma mania muito errada e antiética: sempre que tô no transporte público, dou uma olhada no celular alheio pra ver o que a pessoa tá vendo.

Já vi gente vendo nudes, lendo fofoca ou notícias da política, assistindo série, de boas no Twitter ou caçando crush nos aplicativos de pegação.

Pela timeline que a pessoa segue no Instagram já consigo formar a personalidade dela. Percebo sua visão política, seus gostos musicais, seus ídolos e ali já construo um laço imaginário de afinidade ou ranço entre a gente.

A vida segue. O busão abre as portas. Ou o metrô acelera.

Nesta semana, tinha uma moça a minha frente que estava no WhatsApp e um tal Marcos mandou a seguinte mensagem pra ela:

Oi! Tudo bem aí? Já saiu do trabalho? Eu te amo muito!

Um “EU TE AMO MUITO” assim, no início, direto, logo de cara.

Não sei se o cara fez merda e tá mansinho, se ele pode ser um cafajeste ou algo assim, não sei. Não me importa.

Só sei que um “EU TE AMO MUITO” logo no início foi algo foda e raro.

Lembrei de uma amiga minha com quem eu falo todo dia pelo WhatsApp e nós sempre soltamos um “eu te amo” quando nos despedimos.

Lembrei de uma colega do trabalho que liga pra filha todo dia na hora do almoço e sempre encerra a conversa com um “a mamãe te ama”.

Vejo tantos exemplos de “te amo” no presente” que lembrei de tantos “te amo” que deixamos para depois. Para mais tarde,

Para depois do trabalho, pro dia das mães ou dos pais, pro aniversário, pro fim da conversa ou quando se encontrar pessoalmente.

A gente precisa amar agora. Porque talvez o depois não chegue. Amores não esperam. “Te amo” não deve ser no fim.

Te amo para depois nunca mais.